E agora?
Artigo escrito por: Nuno Madeira do Ó
E no fim, ficou a esperança. Ao Campeonato do Mundo, tocámos-lhe apenas com as pontas dos dedos. Ficou a um escasso metro da linha de ensaio, à distância de um alinhamento desalinhado ou de uma placagem incompleta.
Ficaram as lágrimas na cara de alguns que estiveram em campo a batalhar até para lá dos 80, ficaram os aplausos nas bancadas daqueles que lá se deslocaram e tentaram empurrar os XV de Portugal para a frente.
Seleccionador Nacional
O primeiro passo é perceber se o seleccionador Patrice Lagisquet estará interessado em ficar para mais um ciclo de qualificação. A qualidade do rugby português cresceu marcadamente nos últimos anos e existe toda uma base (equipas sub-18, sub-20, Lusitanos XV) para continuar o trabalho desenvolvido até agora. Com contrato até 2023, o gaulês já afirmou que gostaria de continuar mas apenas se o contrato o levasse até ao próximo Campeonato do Mundo (2027).
Se a equipa técnica se mantiver, o conhecimento obtido ao longo dos últimos dois anos será essencial para preparar o próximo ciclo que esperemos leve os Lobos até à Austrália (onde é bastante provável que seja organizado o seguinte Campeonato do Mundo).
Os Jogadores
No Rugby Europe Championship de 2022 estes foram os jogadores mais utilizados por Portugal.
Se juntarmos o Rugby Europe Championship 2021 e os jogos de Outubro, temos ainda como regulares do 23 convocados Mike Tadjer (Talonador, 33 anos), Nuno Sousa Guedes (Defesa, 27), Raffaele Storti (Ponta/Defesa, 21), João Granate (Terceira Linha, 25), Pedro Bettencourt (Centro, 27), Simão Bento (Defesa, 20), Duarte Torgal (Segunda Linha, 24) ou Thibault de Freitas (Terceira Linha, 30).
À primeira vista, a maior diferenca prende-se com a diferença de idade entre o pack avançado e os três quartos. Se olharmos para o “tight five” nacional, quatro dos cinco jogadores estão acima dos 30 anos e em 2027 terão entre 36 e 41 anos. Isso significa que Portugal terá que renovar a sua linha avançada e dar minutos de jogo a quem possa eventualmente substituir estes jogadores. Se olharmos para esta campanha, Patrice Lagisquet utilizou ainda os seguintes jogadores:
Nome | Posição | Minutos/Idade |
Diogo Ferreira* | Pilar | 170/25 |
Geoffrey Moise* | Pilar | 57/30 |
David Costa | Pilar | 42/22 |
Cody Thomas* | Pilar | 24/26 |
João Mateus | Pilar | 20/31 |
Nuno Mascarenhas | Talonador | 65/23 |
Loic Bournonville* | Talonador | 50/33 |
Lionel Campergue* | Talonador | 62/34 |
Existem algumas alternativas para o médio/longo prazo, como é possível observar mas em posições de tanto desgaste é necessário haver mais profundidade e mais opções. Olhemos, então para os….
Lusitanos VX
Quando este projecto foi criado, o objectivo era proporcionar um nível de treino e de jogo mais elevado ao que o Campeonato Nacional pode proporcionar. Esta equipa serve quase como uma Selecção Nacional “B” que confere aos jogadores mais experiência para quando chegar a sua vez de serem chamados aos Lobos. Se olharmos para os seis jogos que os Lusitanos jogaram até agora (480 minutos) temos:
Posição | Nome | Total (minutos) | Idade |
Pilar | David Costa | 243 | 22 |
Talonador | André Arrojado | 210 | 30 |
Pilar | João Mateus | 171 | 31 |
Pilar | António Prim da Costa | 131 | 19 |
Segunda Linha | Manuel Lima | 128 | 28 |
Pilar | Bruno Rocha | 120 | 29 |
Pilar | Francisco Bruno | 109 | 26 |
Segunda Linha | Martim Belo | 68 | 21 |
Talonador | Francisco Cabral | 29 | 22 |
Talonador | Nuno Mascarenhas | 14 | 23 |
Segunda Linha | Boaventura Almeida | 10 | 20 |
Alguns destes jogadores já começaram a fazer a transição dos Lusitanos para os Lobos. Se olhamos para as idades, cerca de 60% estão abaixo dos 23 anos, o que facilita a integração em ciclos competitivos, com uma visão a longo prazo.
E lá atrás?
Nos 3/4s Portugueses a situação é bastante diferente. Com base no XV mais utilizado, a única dúvida parece ser Samuel Marques que vai chegar a 2027 com 38 anos. No entanto, os restantes jogadores (que tantos elogios arrancaram a quem acompanhou as campanhas de 2021 e 2022) vão chegar a 2027 naquele que será, em teoria, no pico da suas formas e capazes de continuar a espalhar a mesma magia em campo que nos habituaram.
A diáspora
Neste momento, no quase pós-pandemia, há cerca de 5,700 jogadores de rugby em Portugal e o objectivo é que este número aumente para 6,000 no final de 2022. Apesar de serem números bastante razoáveis, é ainda bastante inferior ao das outras selecções que habitualmente competem no Rugby Europe Championship (Geórgia, Roménia, Espanha e Rússia). Uma das alternativas poderá passar por contactar jogadores luso-descendentes para jogarem por Portugal. A World Rugby mudou as regras e, neste momento, um jogador que não jogue há mais de três anos por um país, pode ser internacional por outro desde que tenha ascendência desse país.
Portugal aproveitou esta mudança da melhor maneira e chamou Steevy Cerqueira e Vincent Pinto para a campanha de 2022. Se o primeiro teve um impacto brutal nos alinhamentos conquistados, o segundo mostrou o porquê de ter sido convocado com dois ensaios marcados.
É necessário continuar a fazer uma prospecção neste sentido de modo a poder aumentar a pool de jogadores disponível. Olhando para os países que combinam a paixão pelo rugby com uma grande presença de Portugueses, França e África do Sul serão os alvos mais lógicos.
Então, no que é que ficamos?
Este não apuramento para França (dependente do desfecho da deliberação da World Rugby sobre a possível utilização irregular de um jogador por parte de Espanha) foi um golpe muito duro para o rugby nacional que, pelo que foi jogado em campo, merecia estar lá. No entanto, nem tudo são nuvens no futuro da modalidade e existem jogadores que podem dar continuidade ao (excelente) rugby jogado até agora e, com pensamento estratégico e ambição, o apuramento para 2027 (onde se suspeita, o número de equipas passará de 20 para 24) pode ser uma realidade perfeitamente ao alcance de uma geração tão telentosa como esta.