15 anos depois, Portugal qualifica-se para o Campeonato do Mundo de rugby.
Artigo escrito por: Nuno Madeira do Ó
O melhor: Tudo. Do primeiro para além do último minuto. O ensaio marcado, as penalidades marcadas, as penalidades falhadas, o drop goal ao poste em cima dos 80 minutos e que ia dando um ataque cardíaco a quem já estava com a tensão para lá de alta, e o pontapé que soletrou a palavra história, quase em câmera lenta. Os gritos de “Portugal, Portugal, Portugal” que se ouviam amiúde por parte de quem teve o privilégio de ver o sonho a tornar-se realidade ao vivo. A felicidade estampada na cara dos jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos por todo o mundo. Resumindo, o rugby Português.
O menos bom: Tinha uma coisa ou duas para escrever mas hoje isso não interessa nada – vamos ao Campeonato do Mundo!
Melhor em campo: Samuel Marques. Comandou com maestria, mais uma vez, o jogo Português. Para além de ter marcado a penalidade final, foi uma peça fundamental na manobra ofensiva dos Lobos. Quando Portugal estava “enterrado” dentro dos seus 22, os seus box kicks foram fundamentais para aliviar a pressão e, em muitos dos casos também ganhar (bastantes) metros nos campo.
Era o jogo do “tudo ou nada” para Portugal e os Lobos não desiludiram. O treinador Patrice Lagisquet fez várias mudanças e regressou àquele que foi o XV da primeira partida deste torneio de qualificação com apenas uma mudança: Thibault de Freitas iniciava o jogo com a camisola número 8, passando Rafael Simões para a asa, no lugar do lesionado David Wallis.
O jogo começou praticamente com os Estados Unidos em vantagem, fruto de uma penalidade Portuguesa que AJ MacGinty converteu sem problema. Apesar das duas equipas parecem nervosas (justificadamente), Portugal não se deixou afectar com a desvantagem no marcador e partiu para o ataque. Aos 6 minutos, Nate Augspurger viu o cartão amarelo devido a um late tackle sobre Jerónimo Portela e dois minutos depois, o primeiro ensaio da partida: Nuno Sousa Guedes com uma das suas arrancadas mortíferas a passar por vários defensores antes de entregar a Raffaele Storti que marcou no canto direito do ataque lusitano. Samuel Marques converteu e Portugal passava para a frente do marcador (7-3).
O rugby jogado era um pouco atabalhoado, devido muito em parte à humidade que se fazia sentir no Dubai, com a bola muito molhada e quase impossível de agarrar, causando knock-ons de parte a parte. Os Estados Unidos estavam por cima da partida e reduziram a desvantagem para 7-6, numa penalidade onde José Lima (50ª internacionalização por Portugal) viu o cartão amarelo.
O jogo estava bastante equilibrado: os Estados Unidos tinham passado mais tempo no meio campo lusitano mas Portugal defendia muito bem e esse domínio territorial não se traduziu em pontos. MacGinty falhou uma penalidade aos 31 minutos e Samuel Marques marcou outra aos 37, elevando a vantagem Portuguesa para 10-6. No entanto, já com o relógio no vermelho, MacGinty conseguiu marcar mais três pontos, levando as equipas para os balneários com 10-9 no marcador.
A segunda parte trouxe uma equipa Portuguesa mais dominante e a tentar jogar o rugby rápido e vistoso a que nos habituou, causando bastantes dificuldades aos Estados Unidos. Portugal não conseguiu converter esse domínio em ensaios mas ganhou uma penalidade aos 47 minutos (falhada), outra aos 50 minutos (marcada) e outra aos 54 minutos (também falhada).
Com o resultado em 13-9, os Estados Unidos pressionavam mais e acabariam por chegar ao ensaio: alinhamento no lado direito do ataque, várias fases de ataque com poderosos pick and go com o talonador Kapeli Pifeleti a marcar. Ensaio convertido e Portugal via-se em desvantagem (13-16). Para piorar a situação, Francisco Fernandes via o cartão amarelo e deixava a equipa temporariamente reduzida a 14 jogadores.
Os útimos 20 minutos foram de nervos à flor da pele. Portugal atacava e ganhava território mas sem conseguir marcar. Os Estados Unidos defendiam como podiam e tentavam ganhar mais uma penalidade para que MacGinty pudesse aumentar a vantagem no marcador. Aos 75 minutos, pensava-se que Portugal ia ter um scrum nos 5m ofensivos mas, quase num truque de ilusionismo, o ábritro da partida descortinou um knock-on uns bons metros antes. Com a mudança de posse, Portugal via-se de novo empurrado para dentro dos seus 22.
No entanto, o melhor estava ainda para vir. Portugal sabia que o empate chegava para o apuramento devido à melhor diferença de pontos marcados e procurava a penalidade mágica para conseuguir os três pontos que faltavam. Ataque de paciência, com Samuel Marques a chamar o pack avançado para a frente de ataque e Portugal ganhava, pouco a pouco, território na metade americana. Já com a vantagem dada devido a uma penalidade cometida pelos Estados Unidos, Jerónimo Portela tentou um drop goal a cerca de 50 metros dos postes. Com a oval a rodar caprichosamente no ar, um país inteiro susteu a respiração até que o pontapé de Portela acabou no… poste.
Frustração do lado Português mas havia a penalidade para ser marcada. Samuel Marques carregava nos ombros (e no pé direito) os sonhos de todos os Portugueses. Olhou, tirou as medidas aos postes. Respirou fundo. Correu e deu o pontapé que nos levou até ao Campeonato do Mundo.
Até já, França – os Lobos estão a caminho.