Treinador adjunto da Seleção Nacional e dos Lusitanos XV.
O Linha de Ensaio teve o prazer de conversar com Luís Pissarra.
Nome: Luís Pissarra
Idade: 46 anos
Internacionalizações: 75 internacionalizações + 3 jogos pelos Barbarians + Seleção FIRA 1999 Argentina e Chile + Seleção da Europa 2008
Títulos (jogador):
Campeão Europa grupo B 2004/05
Taça Ibérica 2007
Campeão nacional 1997/98 + 2006/07
4 taças de Portugal
2 Supertaças
Enquanto treinador:
Tricampeão europeu u20 2017, 2018, 2019
Vice-campeão WR Trophy 2017, 2019
3ºClassificado WR Trophy 2018
Quick round:
Clube preferido? Não me vou pronunciar tendo em conta a minha posição de treinador da seleção nacional, mas joguei em Agronomia com uma breve passagem pelo Técnico.
Seleção que mais gosta de ver jogar?
Portugal e Japão
Jogadores preferidos (Português e estrangeiro)? Jogadores portugueses não vou referir, mas internacionalmente o melhor jogador de sempre foi o Joost Van der Westhuizen. Actualmente, gosto do jogo do Antoine Dupont.
Momentos mais alto da carreira como jogador: Apuramento para o Mundial 2007, campeão de europa 2004/05 como capitão, 1ª chamada aos Barbarians em 2004 e o 1º campeonato nacional por Agronomia.
Momento mais alto da carreira como treinador: tricampeonato europeu u20 e as finais do WR Trophy
Como começou a jogar rugby?
O meu pai jogou rugby no Agronomia e desde pequeno que me estimulava para ir aos treinos experimentar com ele. Depois de passar por alguns desportos que praticava simultaneamente, fui a um treino aos 12 anos e passou a ser a minha modalidade de eleição.
Quais são as principais diferenças entre o rugby em Portugal nessa altura e agora?
Houve, claramente, uma grande evolução em muitos aspetos, mas creio que o mais importante foi a melhoria das condições de treino e instalações, bem como os seus métodos associados a organização dos clubes e evolução nas estruturas e qualidade de treino.
Foi ao Campeonato do Mundo com Portugal em 2007. Como consegue descrever essa experiência? Qual foi o momento mais alto dessa participação?
O campeonato do mundo 2007 é, até ao momento, o ponto mais alto do rugby português. A meta atingida por um grupo de jogadores amadores, muito bem liderados e focados no objetivo será sempre um case-study de como conseguimos bater seleções profissionais e chocar o mundo do rugby. A forma como conseguimos o apuramento revela muito o espírito de luta e resiliência presente nos portugueses… Depois de não conseguirmos a qualificação direta, fomos a uma repescagem muito dura que culminou com uma derrota em Montevideo, mas no goal average conseguimos 1 ponto positivo que foi suficiente para o apuramento.
O que vivemos a partir desse momento foi um sonho que culminou com a chegada ao estádio Geoffroy-Guichard, em St-Étienne, para o 1º jogo com a Escócia onde tínhamos milhares de pessoas à espera da chegada do nosso autocarro para celebrarem esse momento. Para mim, essa chegada ao estádio será sempre um dos momentos da minha vida, em que a liderar a multidão de adeptos tínhamos as nossas famílias.
Como foi a transição de jogador para treinador?
Creio que não é um processo fácil mas que a partir de certo momento ou aceitamos essa alteração ou não vamos conseguir ter sucesso na mensagem que pretendemos transmitir aos jogadores. No início da transição para treinador ainda estava a jogar (aconteceu durante 2 anos), o que tem a vantagem de “estar no campo” mas muitas vezes limita a qualidade das observações e análises feitas do lado de fora. Hoje em dia, estou muito confortável com esta situação e posso dizer muito honestamente que não tenho saudades de jogar… Vivi excelentes momentos de alegrias e tristezas mas que estão bem arrumados e estou focado naquilo que posso trazer como treinador.
Que balanço faz até ao momento dos Lusitanos XV? Qual era o objectivo inicial quando decidiram entrar?
Os Lusitanos são uma aposta de sucesso até ao momento e pretendemos que continuem a ser. Os objetivos da franquia que participa na SuperCup foram muito claros e estão a dar os seus frutos já no imediato. Pretendíamos que fosse facultado a mais atletas com qualidade e disponíveis para a seleção um nível de treino e jogo superior ao que têm todos os fins de semana no campeonato nacional, de modo a que possam entrar nos trabalhos e jogos da seleção nacional já com um modelo e mind set apropriado e com um ritmo superior.
Creio que foi muito evidente nos jogos da janela de Novembro, nomeadamente com o Canadá, em que entrámos em campo com uma equipa constituída, basicamente, por jogadores que participaram na SuperCup e demonstraram uma qualidade de jogo e intensidade acima da média, culminando com a 1ª vitória de Portugal frente a esta seleção mundialista. De referir ainda que os Lusitanos apresentaram nas últimas jornadas equipas bastante jovens com perto de uma dezena de internacionais sub-20, o que nos dá uma boa plataforma para preparar o futuro.
Em relação aos Lobos, faltam neste momento 3 jogos para acabar a fase de qualificação para o campeonato do mundo. Que balanço faz até agora? E que perspectivas tem para os jogos que faltam?
Depois deste fim de semana poderíamos estar numa posição melhor ou mais confortável mas ao bom espírito português vai ser sofrer até à última tal como foi em 2007 (por um ponto). A verdade é que estamos a jogar melhor que no passado com um estilo de jogo muito dinâmico, com umas linhas atrasadas rápidas e imprevisíveis e com uma avançada que, na maior parte das vezes, compete e superioriza-se a adversários tradicionalmente mais fortes, sendo que a nossa defesa tem sido uma barreira dificil de ultrapassar. Tudo isto dá uma grande motivação e confiança no apuramento.
Vamos ter uma grande final em Madrid, com a Espanha e a necessidade de conseguir os bónus ofensivos com Países Baixos e Rússia. A vinda do selecionador nacional Patrice Lagisquet fez-nos subir o nível e o grau de exigência. Trabalhamos como profissionais e a preparação e treino são extremamente importantes para termos sucesso.
O que acha que faz falta ao rugby nacional para atingir o próximo patamar?
Numa situação mais imediata, creio que faltam números de atletas ou mais profundidade relativamente a escolhas de atletas. Temos poucos praticantes e taxas de desistência acima do desejado no período pré-sénior o que nos deixa sempre com poucos atletas nos clubes e muitas vezes com pouca competitividade interna, o que limita a evolução. Num aspecto mais objetivo para a seleção nacional era muito importante que os “patrões” dos nossos jovens internacionais fossem mais cooperantes com a seleção, facilitando os períodos de treino e disponibilidade para treinos, estágios, jogos e mesmo recuperação, uma vez que os nossos recém-licenciados/trabalhadores mostram uma capacidade de superação acima da média a compatibilizar todos estes aspectos, demostrando a sua vontade para representar Portugal.
Que conselhos tem para dar a alguém que esteja a começar agora a jogar rugby?
Para mim, o rugby é o melhor desporto… A nível juvenil a maior parte dos clubes seguem modelos semelhantes em que os valores e princípios são extremamente importantes o que promove uma excelente cultura desportiva e aprendizagens para a vida a nível de espírito de equipa e comportamentos de grupo. Tudo isto está associado a uma modalidade viril e por vezes agressiva mas queremos que as condutas dentro e fora de campo, que sirvam como modelo ao crescimento individual. Creio que, para quem gosta de desportos de contacto, treino fisico e de desenvolver vários skills com a bola o rugby proporciona todo um conjunto de dinâmicas que satisfazem os seus praticantes e se associarmos toda a vertente da equipa e seu espírito, não há melhor complemento.